A evolução do transporte: da República até os dias de hoje
25 de junho de 2019 #Transporte
Hoje resolvi fazer algo diferente. Nos últimos meses tenho compartilhado alguns pensamentos e minha experiência como operador logístico, e confesso que tem sido muito produtivo, pois tenho conseguido trocar ideias que são muito importantes para a evolução do nosso segmento. Agora, todos sabem que dia 15 de novembro comemoramos o surgimento da República brasileira, que foi proclamada em 1889, por Marechal Deodoro da Fonseca. Então, sugiro uma outra proposta, falar sobre a evolução do transporte de lá para cá.
E não vejo isso somente como curiosidades ou uma contextualização histórica, mas como uma análise, afinal, para construir o futuro e viver o presente, é imprescindível compreender as movimentações do passado. Porém, o universo do transporte logístico pode ser realizado por vários meios, seja terrestre, aéreo ou fluvial, cada um com seu tempo de evolução. E acho que é isso que todos devem se atentar nessa análise que vou fazer.
República: a reestruturação
A partir da República, o país se reestruturou administrativamente e, com isso, foi criado o Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas. Nesse período, o transporte era feito basicamente pelos modais fluvial e ferroviário. Um grande ganho neste período foi o Plano da Comissão de 1890, que estabelecia as competências federais e estaduais no transporte.Começo do século XX e o fortalecimento ferroviário
Logo em meados da primeira década do século XX, três acontecimentos foram marcantes para o crescimento ferroviário no país: a assinatura do Tratado de Petrópolis, entre o Brasil e a Bolívia, para construir a Estrada de Ferro Madeira – Mamoré; a criação da Inspetoria Federal de Estradas – IFE, órgão central para o planejamento dos transportes nacional; e o Plano de Viação Férrea de 1912, que previa a integração ferroviária para o Vale do Amazonas. Nessa época, o Brasil tinha números muito interessantes do sistema ferroviário: aproximadamente, 29.000 km de extensão, cerca de 2.000 locomotivas a vapor e 30.000 vagões em tráfego. Estima-se que quase metade desses números era responsável por escoar a produção cafeeira de São Paulo.A era rodoviária
O Governo de Washington Luís (1926-1930) começou a proporcionar uma grande virada no transporte nacional, com grande impulso para o desenvolvimento do rodoviarismo brasileiro. Foram criadas novas estradas de rodagem e a venda de carros no Brasil também foi aumentando. Em 1930, existiam 2.255 quilômetros de extensão de estradas de rodagem e 5.917 quilômetros de estradas carroçáveis, em mau estado de conservação. Esses número continuariam a aumentar, principalmente a expansão de estradas de rodagem, que muitas vezes tinham traçados paralelos aos das ferrovias. Com isso, ao invés de se estimular a integração intermodal de transportes, acirrava-se a competição principalmente entre rodovias, ferrovias e navegação. A consolidação do sistema rodoviário como conhecemos hoje, se deu no governo JK, que incentivou a implantação de uma indústria automobilística nacional e, com a decisão de construir a nova capital no interior do país, impulsionou o desenvolvimento rodoviário do Brasil. A partir daí, os outros modais foram enfraquecendo com o tempo e extremamente reduzidos, como o caso do ferroviário, que perdeu totalmente seu protagonismo no transporte, tanto de carga quanto de passageiros.Uma menção honrosa
Mesmo sem muito incentivo no Brasil, o transporte de carga também tem sua participação na história da logística do país, principalmente com a atuação da Varig Cargo e, posteriormente, Varig Log, que foi a pioneira no modal. O transporte de carga aérea no Brasil teve inicio com a criação da VARIG, em 1927. Além de passageiros, a primeira rota da VARIG, também transportava carga. Em 1944, aconteceram os primeiros voos exclusivamente feitos por cargueiro, na rota Porto Alegre e Pelotas. E a empresa ditou o ritmo da aviação não só nacional, mas de todo o cone sul, tanto de passageiro quanto de carga, até o começo dos anos 2000, quando problemas financeiros fizeram com que a empresa entrasse em recuperação judicial, em 2006, situação que arrastou até 2012, quando foi declarada falida. Um melancólico fim para a principal companhia aérea brasileira.Mas e o futuro?
Depois de analisar a nossa história, é possível ver que o Brasil tem potencial para trabalhar diversas formas de transporte, seja terrestre, aéreo e fluvial, porém, parece que nunca houve uma convergência dos modais, mas sim, uma disputa. O que é difícil entender, ainda mais levando em conta que uma das dificuldades da nossa economia é o alto custo Brasil, ocasionado, também, por problemas de infraestrutura. Enfim, mas tiro duas lições analisando nossa história. A primeira é que o protagonismo de um meio de transporte é sim muito atrelado ao incentivo do governo em determinado modal, como vimos na mudança envolvendo o modelo ferroviário e rodoviário. E o segundo é mais direcionado ao meio em que vivo hoje, como operador logístico. Nosso foco deve ser efetuar o transporte de forma mais inteligente e eficiente para os nossos clientes, independente do meio que seja protagonista no momento. Com isso, devemos sempre estar preparados para as as mudanças nos modais. Seja essa transformação daqui 10, 20 ou 50 anos.
Escrito por
Ricardo Agostinho Canteras
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